Objetivo do Blog

Divulgar textos, artigos e imagens que contribuam à reflexão dos conteúdos educacionais e do campo religioso
brasileiro
.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012


MARTINHO LUTERO

Por

Edson Pereira Lopes



Extrato da obra: Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs.Obras selecionadas. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia Editora, 1995, vol 5, p. 302-325.

 A tônica de Lutero e razão do seu destemor

 Lutero era um destemido:

[...] exilado e proscrito há cerca de três anos, certamente eu deveria ter silenciado, se tivesse temido os mandamentos dos homens, mais do que a Deus. Assim também muita gente grande e pequena na Alemanha ainda perseguem, pela mesma razão, a tudo que digo e escrevo e por causa disso derramam muito sangue. Agora, porém, Deus me abriu a boca e me ordenou que falasse; nisso ele me assiste vigorosamente e, sem conselho e ação de minha parte, fortalece minha causa e a divulga tanto mais quanto mais raivejam,  e se comporta como se risse e zombasse de sua fúria,como diz o Sl 2.4. Somente nisso todo aquele que não está endurecido já pode notar que esta causa é a própria causa de Deus, visto que aqui se revela aquela qualidade da palavra e obra divina: quanto mais rigorosa a perseguição e repressão, tanto mais ela cresce. Por isso quero falar e não silenciar (como diz Isaías 62.1) enquanto viver, até que a justiça de Cristo irrompa [...] (p. 302, 303).


Foco do destemor de Lutero: Incentivar às autoridades alemãs a criarem e manterem escolas.

As escolas estão no abandono

[...] constatamos hoje em todas as partes da Alemanha que as escolas estão no abandono. As universidades são pouco frequentadas e os conventos estão em declínio. [...] Afinal, que se aprendeu até agora nas universidades e conventos a não ser tornar-se burro, tosco e estúpido? Houve quem estudasse vinte, quarenta anos e não sabe nem latim nem alemão. Não quero falar da vida vergonhosa e dissoluta na qual a nobre juventude foi corrompida tão miseravelmente. É bem verdade: se as universidades e conventos continuarem como estão, sem a aplicação de novos métodos de ensino e modos de vida para os jovens, preferiria que nenhum jovem aprendesse qualquer coisa e que ficassem mudos (p. 303, 306).

Razões do Abandono:

1.                  Educação que resulte em benefício financeiro: [...] Pois é, dizem eles, ‘que haverão de estudar se não podem tornar-se padres, monges e freiras? Que aprendam algum ofício com que possam sustentar-se’. Esta sua própria confissão revela com suficiência as intenções e a mentalidade dessa gente. Pois se não tivessem procurado nos conventos e fundações ou no estado clerical apenas o bem-estar da barriga e alimento material para os filhos, e se tivessem tido intenções sérias de procurar a salvação e a bem-aventurança de seus filhos, não desanimariam desta forma nem desistiram [...] Pois, na verdade não queremos preocupar-nos somente com o sustento de nossos filhos, mas também com sua alma. Certamente é isso que pais verdadeiros, cristãos e fiéis dirão sobre esse assunto (p. 304).

2.                  O abandono das escolas é uma estratégia do diabo: Não admira que o diabo tome esta atitude a esse respeito, convencendo os carnais corações mundanos a negligenciarem os filhos e a juventude [...] Acaso seria de esperar que lhe agradasse o fato de seus ninhos, os conventos e hordas espirituais, serem destruídos pelo Evangelho? Pois é justamente nestes que mais arruína os jovens, e ele tem muito, sim, todo o interesse neles [...]. Por isso agiu com muita inteligência [...] Aí ele interveio e lançou suas redes, constituindo esses conventos, escolas e estados, de modo que um menino poderia escapar-lhe somente por um milagre especial de Deus [...] Pois se quisermos causar-lhe algum prejuízo que ele sinta de fato, isso deve ser feito pela juventude que cresce no conhecimento de Deus e que divulga a palavra de Deus e a ensina a outros. Ninguém, mas ninguém mesmo, acredita que diabólico empreendimento danoso é este; enquanto isso a coisa acontece com tanta tranquilidade que ninguém o percebe, e o prejuízo está feito mesmo antes que se possa aconselhar, defender-se ou ajudar. Tememos o turco, guerras e enchentes [...]. Mas a este propósito do diabo, este ninguém enxerga e também ninguém o teme; isso acontece em silêncio (p. 304, 305).

3.                  A falta de uma política educacional. Caros senhores. Anualmente é preciso levantar grandes somas para armas, estradas, pontes, diques e inúmeras outras obras semelhantes, para que uma cidade possa viver em paz e segurança temporal. Por que não levantar igual soma para a pobre juventude necessitada, sustentando um ou dois homens competentes como professores? Também cada cidadão deveria pensar o seguinte: Até agora despendeu inutilmente tanto dinheiro e bens com indulgências, vigílias, doações, espólios testamentários, missas anuais pelo falecimento, ordens mendicantes, fraternidade, peregrinações e toda a confusão de outras tantas práticas deste tipo; estando agora livre dessa ladroeira e doações para o futuro, pela graça de Deus, que doravante doe, por agradecimento e para a glória de Deus, parte disso para a escola, para educar as pobres crianças, onde está empregado tão bem (p. 305).

4.                  O despreparo dos pais. [...] Há os que sequer são leais e conscientes a ponto de fazê-lo ainda que tenham condições para tanto. Como as avestruzes, também eles se endurecem contra seus filhos, contentam-se com o fato de terem se livrado dos ovos e de terem gerado filhos; além disso nada mais fazem [...]. Infelizmente, a maioria das pessoas mais velhas não tem aptidão para tanto e não sabe como educar e ensinar crianças. Pois elas próprias nada aprenderam a não ser encher a barriga. Para ensinar e educar bem as crianças precisa-se de gente especializada [...] Mesmo que os pais fossem aptos e o quisessem assumir, eles não têm tempo nem espaço em face de outras atividades e dos serviços domésticos (p. 308).

5.                  Educação: responsabilidade dos pais e das autoridades governamentais.

Responsabilidade dos pais. [...] o mais importante, a saber, o próprio mandamento de Deus que estimula e exige com tanta frequência por meio de Moisés que os pais ensinem os filhos [...] Isso o demonstra também o Quarto Mandamento de Deus, onde ordena os filhos a obediência aos pais com tanto rigor que filhos desobedientes devem ser inclusive condenados à morte pelo tribunal (Dt 21.18 ss). Aliás, para que vivemos nós velhos senão para cuidar da juventude, ensinar e educá-la? [...] Na verdade, é pecado e vergonha o fato de termos chegado ao ponto de haver necessidade de estimular e de sermos estimulados a educar os nossos filhos e a juventude e de buscar o melhor para eles (p. 307).

            Responsabilidade das autoridades governamentais. Portanto, a necessidade obriga a mantermos educadores comunitários para as crianças [...]. Por isso certamente será de competência do conselho e das autoridades dedicar o maior cuidado e o máximo empenho à juventude. A eles, como curadores, foram confiados os bens, a honra, a honra, corpo e vida de toda a cidade. Portanto, não agiriam responsavelmente perante Deus e o mundo se não buscassem, com todos os meios, dia e noite, o progresso e o melhoramento da cidade. Agora, o progresso de uma cidade não depende apenas do acúmulo de grandes tesouros, da construção de muros de fortificação, de casas bonitas, de muitos canhões e de fabricação de muitas armaduras [...]. Muito antes, o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados. Estes então também podem acumular, preservar e usar corretamente riquezas de todo tipo de bens (p. 309).

Devem ser criadas instituições escolares. Mesmo que (como já disse) não existisse alma e não se precisasse das escolas e línguas por causa da Escritura e de Deus, somente isso já seria motivo suficiente para instituir as melhores escolas tanto para meninos como para meninas em toda parte, visto que também o mundo precisa de homens e mulheres excelentes e aptos para manter seu estado secular exteriormente, para que então os homens governem o povo e o país, e as mulheres possam governar bem a casa e educar bem os filhos e a criadagem (p. 318).

A Escola deveria:

  1. Ter salas mistas. Meninos e meninas;
  2. Metodologia de ensino lúdica (p. 319) e História.  
  3. Tempo de aulas: 02 horas para os meninos, seguido de ofícios em casa; 01 hora para as meninas, mais atividades domésticas (p. 320).
  4. Biblioteca. O livro fundamental, as Escrituras (p. 324).


Críticas de Lutero

Dirigidas aos Clérigos: Se hoje se fundissem todos os bispos e todos os padres e monges da Alemanha num só bolo, não se encontraria tanto quanto se encontrava num único soldado romano [...] Deixaram a juventude crescer como as árvores no mato, sem se preocuparem como ensinar e educá-la; por essa razão se desenvolveram de modo tão deformado que não servem para nenhuma construção, havendo somente uma capoeira imprestável, útil somente para o fogão (p. 310).

Dirigidas aos governos: Sempre haverá de existir um regime secular. Acaso se há de permitir que governem apenas grosseirões e malandros, quando se pode fazer as coisas muito bem de outro modo? Isso é um procedimento selvagem e insensato. Por fim, seria melhor transformar porcos e lobos em senhores e nomeá-los para governarem sobre pessoas que não querem preocupar-se como poderiam ser governados por gente. Também é uma maldade desumana quando não se pensa além do seguinte: Agora nós estamos no governo que nos interessam os problemas dos que vêm depois de nós? Pessoas deste tipo, que no governo procuram apenas seu próprio proveito e honra, não devem governar sobre seres humanos, mas sobre porcos e cachorros (p. 310).

Dirigidas aos professores. Além disso, recebemos e tomamos sobre nossas costas as máscaras do diabo, os monges, e o fantasma das universidades que erguemos a custos de esforços desumanos, e muito doutores, pregadores, mestres, padres, monges, ou seja, grandes grosseiros e gordos burros, ornados de barretes vermelhos e marrons, como o porco com uma corrente de ouro e pérolas, que não nos ensinaram nada de bom; pelo contrário, nos cegaram e confundiram cada vez mais e, em recompensa, devoraram todos os nossos bens e encheram todos os conventos, sim, todos os nossos bens e encheram todos os conventos, sim, todos os cantos somente com a sujeira e esterco de seus livros sujos e venenosos. É um horror só pensar nisso [...] Durante todo este tempo tivemos que nos satisfazer com professores e mestres deste tipo: eles próprios nada sabiam e não eram capazes de ensinar nada de bom e decente, e também não conheciam os métodos como aprender e ensinar (p. 323).


Considerações finais

De que valeria se, no mais, tivéssemos e fizéssemos tudo e fôssemos todos santos, mas deixássemos de fazer aquilo que é a razão principal de nossa existência: a educação da juventude? Em minha opinião, nenhum pecado exterior pesa tanto sobre o mundo perante Deus e nenhum merece maior castigo do que justamente o pecado que cometemos contras as crianças, quando não as educamos (p. 307).


2 comentários:

  1. Olá Prof. Edson. Parabéns pelo blog. Vou acompanhar, pois sei que sempre enconrarei bons conteúdos aqui. Abç!

    ResponderExcluir
  2. Caro colega,
    saudação.
    Parabéns pela iniciativa. Ótima ideia resgatar alguns de nossos "mitos fundantes".
    Abraço,
    Silas Luiz

    ResponderExcluir